Ayahuasca
O Santo Daime é uma religião brasileira. É também o nome da bebida que é servida durante os rituais dessa religião, para os seus participantes. Fora do contexto do Santo Daime, essa mesma bebida é conhecida como Ayahuasca.
A Ayahuasca é um chá. Sua receita é simples: basta ferver um cipó chamado Jagube (ou Mariri) junto com folhas de uma planta chamada Rainha (ou Chacrona), em proporções específicas. Assim como fervemos o hortelã, a melissa, a erva-cidreira… e temos um chá. Da mesma forma, a Ayahuasca nada mais é do que um chá feito a partir de duas plantas.
Porém, não se trata de um chá ordinário. Pelos efeitos que sua ingestão produz no ser humano, é também classificado como “enteógeno” ou “planta de poder”. O significado literal de enteógeno é “manifestação interior do divino”. Voltaremos a falar sobre os poderes do chá adiante.
É droga?
A resposta para esta pergunta é sim. Mas é preciso entender bem o que isso significa.
As pessoas vão na drogaria e compram fármacos. Compram remédios. Compram drogas – que é o que se vende em drogarias, afinal.
A Ayahuasca é droga nesse sentido farmacológico. É uma composição de ervas medicinais. A natureza produz as plantas que são os seus ingredientes há milênios. Não foi nenhum laboratório ou cientista que as criou. Em contraste com a atividade industrial das companhias farmacêuticas e alimentícias, não há nenhum interesse comercial ou lucrativo nessa manifestação espontânea da natureza.
Antes, eu perdia algum tempo tentando contornar essa pergunta, ou essa “acusação”, explicando sobre os benefícios da Ayahuasca. Mas hoje eu já sou mais direto. Confiante e sem rodeios afirmo: é droga, sim.
Um santo remédio, que a divina mãe natureza faz brotar na floresta amazônica.
As pessoas ingerem açúcar refinado – a mais viciante e venenosa das substâncias. Comem carne. Temperam a comida com sal refinado iodado. Consomem todo o tipo de coisas insalubres – não só na alimentação, mas assistindo televisão, ouvindo música, lendo jornais e revistas… se entopem de porcaria, sem o menor respeito por si mesmas, e inconscientes disso.
Mas, em seu preconceito e ignorância, sem saber o que fazem, condenam o Santo Daime / Ayahuasca como uma “droga” – sendo que essa sagrada medicina tem o poder de trazer a vontade de viver de volta a um suicida; tem o poder de livrar do vício os fumantes e consumidores de entorpecentes e narcóticos; tem o poder de revelar Deus a um materialista enrustido. Estes são alguns dos poderes dessa “planta de poder”. Desse poderoso remédio. Dessa maravilhosa, divina e sagrada “droga”.
Cabe acrescentar que, em relação à legalidade, o governo brasileiro dispôs a regulamentação de seu uso para fins religiosos, tendo vetado o seu comércio e propaganda. Portanto, o seu consumo dentro de um contexto religioso é uma atividade lícita, amparada pela nossa legislação.
É perigosa?
Mais uma vez a resposta é sim – tanto quanto um bisturi pode ser perigoso nas mãos de um assassino, mas pode salvar vidas nas mãos de um cirurgião.
Há medicamentos que qualquer um pode ir comprar sem receita numa farmácia. Há outros que exigem a prescrição médica. Tem remédio tarja vermelha. E tem remédio tarja preta.
A Ayahuasca é muito forte e poderosa. Se for consumida levianamente, sem os devidos cuidados, como se fosse um mero chá de camomila – a sua ação pode desorientar quem a ingeriu.
Existem glândulas no cérebro que geralmente estão “adormecidas”. Algumas dessas glândulas são ativadas pela ação da Ayahuasca. Isso proporciona experiências de contato com dimensões que normalmente estão fora de nosso acesso consciente.
Nós sabemos que ondas eletromagnéticas ao nosso redor estão transmitindo programas de televisão, sinal de internet, conversas telefônicas… mas nós não captamos nada disso. Quando o celular toca, precisamos atender e usar o aparelho. Nós não conseguimos captar a conversa diretamente “do ar”. Mas sabemos que a conversa está lá, invisível, nas ondas de rádio.
Ou seja, os nossos cinco sentidos, e na verdade toda a nosssa inteligência e emoção, estão limitados por uma faixa de sensibilidade. A Ayahuasca ativa glândulas que expandem essa sensibilidade, e assim nos permite tomar conhecimento de outras realidades, para as quais estávamos “cegos” até então.
É por isso que se fala em “expansão da consciência”. Eu particularmente não gosto dessa expressão, porque confunde e pode dar a falsa impressão de que se trata de um entorpecente ou narcótico, que traz experiências de mera alucinação. O que acontece com a Ayahuasca é completamente diferente. Mas é bem simples de entender: ao ativar potenciais adormecidos, ela “abre uma nova porta”, um “novo canal”, que antes estava fechado.
O problema é que essa abertura, numa pessoa psicologicamente desorientada, e sem o devido acompanhamento, pode simplesmente deixar a pessoa mais confusa. Ela vai ter a experiência de “expansão”, porém não vai ganhar nada com isso, e até possivelmente pode perder ainda mais a orientação.
Por isso, apesar de ser incrivelmente milagrosa, a Ayahuasca demanda muita responsibilidade de quem a administra. Estamos falando de medicina aqui. É preciso seguir a receita do médico. É preciso ter acompanhamento, direção. Um remédio tarja preta pode salvar ou matar. Um bisturi pode salvar ou matar. A Ayahuasca pode iluminar ou confundir.
Portanto, a Ayahuasca pode ser perigosa caso seja utilizada inescrupulosamente. Sendo a utilização devidamente conduzida de maneira competente, não há perigo algum.
Eu devo tomar?
De novo, a resposta é sim. Se você está curioso, se você está em dúvida, se você quer experimentar, então eu o incentivo sim a conhecer o Santo Daime / Ayahuasca.
Porém, após ter comungado da Ayahuasca com dezenas de grupos diferentes, o único grupo que eu me atrevo a recomendar publicamente é a Linha Unificada, pois sabem muito bem o que estão fazendo.
Eu afirmei que Ayahuasca “é droga” e que “é perigosa”, para que ninguém se atreva a experimentar sozinho, ou numa festa, ou de qualquer outra forma irresponsável. Não quero estimular isso de jeito nenhum. Mas não fiz essas afirmações com a intenção de amedrontar. Pelo contrário: entenda a Ayahuasca como “um remédio forte”, ou seja, um medicamento que faz muito bem desde que seja seguida a receita, e que seja consumido sob a supervisão de alguém experiente. Assim como quero desestimular experiências indevidas com a Ayahuasca, quero também estimular o seu uso dentro das condições corretas. Porque o seu efeito é extremamente benéfico!
A Ayahuasca promove limpeza física/corporal e também mental/emocional. O mal estar que muitas pessoas sentem ao tomar pelas primeiras vezes deixa de existir a partir do momento que o corpo expulsa os tóxicos que estão presentes. Quando a limpeza física/corporal está completa e o corpo desintoxicado, não há mal estar. A limpeza mental/emocional é um processo mais longo, porém sem demora a ativação da pineal vai lançando clareza naquilo que é necessário que a pessoa compreenda. As experiências são únicas. Falsos condicionamentos são desconstruídos de forma consciente.
Portanto, se você está considerando, eu o encorajo a ter sua experiência com a Ayahuasca, ao mesmo tempo em que insisto na ressalva: é preciso estar sob a supervisão de uma pessoa ou grupo responsável e experiente.
Para que eu devo tomar?
A melhor prescrição da Ayahuasca é para pessoas com histórico de busca espiritual. A Ayahuasca é medicina espiritual. A Ayahuasca vai proporcionar uma abertura que vai dar um vislumbre de realidades que, até aquele momento, eram apenas conceitos e teorias. Uma sessão de Ayahuasca pode trazer imediatamente o que o indivíduo não conseguiu alcançar em anos tentando praticar meditação. A experiência é profunda e altamente transformadora. É a libertação de uma prisão mental. É um êxtase de auto-realização. É saborear Deus.
Digamos que Deus está presente em todo lugar, a todo instante. Mas nós partilhamos do deleite, da glória divina, no nosso dia a dia? Ou essa plenitude é apenas uma teoria, um conceito, um desejo? A Ayahuasca pode remover o bloqueio, pode levantar o véu que nos separa de Deus. Como espírito e matéria estão interligados… a Ayahuasca vem mostrar que tem o poder de, através de sua ação na matéria, abrir o canal para o espiritual.
Outra indicação para a Ayahuasca é para pessoas viciadas em entorpecentes. A experiência da Ayahuasca pode fazer a pessoa tomar consciência de sua atitude auto-destrutiva, e a partir daí sentir repulsa pela sua conduta, e vontade de mudar o próprio comportamento. Isso é muito real. Porém, nestes casos é altamente recomendável que haja alguém responsável acompanhando a pessoa.
Pela sua capacidade de promover um salto na auto-consciência, na percepção de si mesmo, a Ayahuasca pode ser indicada para transtornos psicológicos e comportamentais. Será necessário acompanhar o “paciente” de perto, com diálogo e orientação competentes, a fim de extrair resultados bem positivos.
Contra-Indicações
Com certeza há muitos casos em que talvez seja melhor evitar a Ayahuasca. O princípio aqui é o mesmo que para a maioria dos demais medicamentos farmacológicos. Se houver “hiper-sensibilidade”, “alergia” ou “reações adversas”, como maior confusão mental ou perturbação – pode ser melhor evitar a Ayahuasca.
Outra situação seria a de alguém exercendo um papel de grande responsabilidade. A experiência inicial da Ayahuasca pode ser muito intensa. Portanto, se é preciso estar trabalhando no dia seguinte pela manhã… é recomendável esperar as férias, ou pelo menos um final de semana.
Do mesmo modo, será bom evitar experiências iniciais com Ayahuasca durante a gravidez. Para mulheres que já estão acostumadas com a Ayahuasca, creio que elas mesmas, melhor do que qualquer outra pessoa, saberão se devem interromper o uso ou não – ou então se devem consultar alguém de sua confiança sobre o assunto.
Na verdade, não há uma fórmula, receita ou resposta que possa servir para todos os casos. Cada caso é um caso. A indicação ou não depende das particularidades de cada caso.
A princípio, se não há interesse ou vontade, então não se deve forçar ou insistir.
Em Suma
Ayahuasca é um “presente dos deuses” para a humanidade. Tem o poder de fazer cair por terra condicionamentos mentais. Ela “desmantela o ego” e faz pulsar o “coração espiritual”. Tudo isso, agindo quimicamente em nosso organismo.
Quanto mais pessoas usufruírem dos benefícios da Ayahuasca, com certeza estaremos avançando mais para um mundo de harmonia, equlíbrio e amor.
Por ser tão poderosa, deve ser considerada com precaução, com respeito, com reverência.
Nem todos estão preparados para ela. Mas todos os que estão deveriam dar a si mesmos o “upgrade” que ela proporciona.
A Ayahuasca não exige consumo continuado. A experiência que uma sessão ou um conjunto de sessões pode proporcionar será um tesouro para a vida inteira, que nunca será perdido.